Por: Rayane das Graças Silva Sousa (rayanegs@hotmail.com), Saionara Robatini Ferreira (saionararobatini2@gmail.com), Gabriel de Castro Jacques (gabriel.jacques@ifmg.edu.br)
O gafanhoto-do-deserto (Schistocerca gregaria), pertencente à ordem Orthoptera, é considerado uma das pragas migratórias mais destrutivas do planeta, com um comportamento único que combina voracidade e capacidade de organização em massa. Esses insetos normalmente vivem de forma isolada, mas em condições favoráveis, como após períodos de chuvas intensas que promovem o crescimento da vegetação, eles sofrem uma transformação conhecida como "fase gregária". Nessa fase, os gafanhotos mudam não apenas seu comportamento, tornando-se sociais, mas também sua coloração, que serve como um sinal visual para o grupo (imagem 1).
Formando enxames que podem conter bilhões de indivíduos, os gafanhotos são capazes de percorrer milhares de quilômetros, frequentemente atravessando fronteiras e afetando múltiplos países em uma única temporada. Cada inseto pode consumir diariamente cerca de 2 gramas de vegetação, o equivalente ao seu próprio peso. Embora essa quantidade pareça pequena, um único quilômetro quadrado de enxame, com milhões de indivíduos, pode destruir em um dia o que bastaria para alimentar milhares de pessoas.
Esses eventos são especialmente devastadores em regiões já vulneráveis, como o Quênia, que recentemente enfrentou a pior infestação de gafanhotos em sete décadas. Durante essa crise, os enxames coincidiram com a temporada de crescimento vegetativo, momento em que as lavouras estão mais expostas. O impacto foi catastrófico, ameaçando a segurança alimentar de mais de 25 milhões de pessoas na África Oriental. A multiplicação acelerada dos insetos nesses períodos torna mais grave a situação, dificultando o controle da praga.
Além do impacto econômico, as invasões de gafanhotos também representam um desafio ecológico, pois os enxames afetam os ecossistemas locais, competindo por recursos com outros herbívoros e alterando os ciclos naturais. A capacidade de adaptação desses insetos, que inclui sobreviver a longas jornadas e explorar diferentes fontes de alimento, os torna incrivelmente resilientes e difíceis de conter.
Esse fenômeno ilustra como pequenas mudanças ambientais podem desencadear grandes crises, reforçando a necessidade de vigilância constante, estratégias de manejo integradas e colaboração internacional para mitigar os efeitos dessas pragas. O gafanhoto-do-deserto, com sua impressionante resistência e capacidade de organização, continua a ser um símbolo do equilíbrio delicado entre a natureza e a atividade humana.
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