Quinta, 07 Dezembro 2023 00:09

Jack Responde: Como eram contabilizados os anos antes do calendário cristão?

Imagem do Jack imaginando como eram contabilizados os anos antes do calendário cristão. Imagem do Jack imaginando como eram contabilizados os anos antes do calendário cristão. Amanda Iamaguchi

Olá, caros amigos!

No texto desta semana estaremos esclarecendo uma pergunta da leitora Paula, que gostaria de saber como eram contabilizados os anos antes do calendário cristão! Para nos ajudar com a resposta, contaremos com a ajuda do nosso prezado professor de História do IFMG - campus Bambuí, Rodrigo Francisco Dias.

Como eram contabilizados os anos antes do calendário cristão?

Por Rodrigo Francisco Dias (rodrigo.dias@ifmg.edu.br).

Essa é uma pergunta interessante, mas ela nos faz pensar em uma outra questão: os seres humanos sempre contabilizaram os anos? Hoje, após diversos estudos, sabemos que o uso de calendários, a contagem dos anos e as formas de se “medir” o tempo nem sempre foram práticas adotadas pela humanidade.

Em muitas sociedades antigas não fazia o menor sentido falar em “séculos”, “décadas”, “anos”, “meses” ou “dias”, pois tais medidas de tempo sequer existiam. Foi somente ao longo do tempo, quando as diversas sociedades ao redor do mundo foram se tornando cada vez mais complexas e populosas, o que tornou a administração dessas sociedades um desafio cada vez maior, que certas medidas de tempo começaram a ser desenvolvidas.

Os primeiros calendários foram elaborados a partir de observações astronômicas dos movimentos aparentes do Sol, da Lua e das estrelas. Os egípcios, por exemplo, elaboraram um calendário solar (baseado no tempo que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol) de 365 dias, o que corresponde à nossa noção atual de “ano”. Naquele calendário egípcio, o primeiro dia do “ano” coincidia com as cheias do rio Nilo.

Já os chineses desenvolveram um calendário lunissolar (ou seja, baseado tanto nas fases da Lua quanto no ano solar) que organizava os “anos” em períodos de 12 meses com 29,5 dias cada. Todavia, de tempos em tempos, os chineses adicionavam um ou mais meses para que o calendário facilitasse a identificação da época de cada estação do ano (verão, outono, inverno e primavera).

Embora cada sociedade frequentemente utilizasse apenas um calendário para a organização das suas atividades econômicas e das suas práticas culturais e religiosas, não era incomum que uma única sociedade pudesse usar mais de um calendário ao mesmo tempo. Os maias, por exemplo, que desenvolveram uma complexa sociedade na América Central, em uma região situada em áreas dos atuais México, Guatemala e Belize, usavam um calendário solar de 365 dias e um calendário religioso de 260 dias.

Já a história do nosso atual calendário cristão remonta ao Império Romano. Foi durante o governo de Júlio César em Roma que se estabeleceu um calendário de 365 dias, dividido em 12 meses, sendo que alguns tinham 30 dias e outros 31 dias. Todavia, a cada ano, ficava faltando 6 horas para completar o ciclo solar, o que gerava uma diferença de quase um mês a cada intervalo de 100 anos. Para solucionar esse problema, os astrônomos optaram por adicionar, a cada quatro anos, um dia ao mês de fevereiro, o que deu origem ao chamado “ano bissexto”.

O “calendário juliano” – expressão que remete exatamente à figura de Júlio César – apresentava ainda o inconveniente de possuir um ano de 365 dias, 6 horas, 11 minutos e 14 segundos maior que o ano solar. O problema disso era que, a cada 128 anos, tal calendário se adiantava um dia inteiro, o que acabou gerando problemas na própria contagem do tempo.

Foi em 1582 que o Papa Gregório XIII estabeleceu um decreto segundo o qual aquele “ano” perderia dez dias, de modo a “consertar” a contagem do tempo. Por meio daquele decreto, a quinta-feira de 04 de outubro de 1582 foi seguida pela sexta-feira de 15 de outubro. Também ficou estabelecido que alguns anos bissextos seriam eliminados para evitar novos problemas na contagem do tempo no futuro, ficando definido que os anos centenários só seriam bissextos se fossem divisíveis por 400, tais como os anos de 1600 e 2000. Estava definido o chamado “calendário gregoriano”, que muitos países utilizam até os dias de hoje.

Um aspecto importante do calendário gregoriano é o uso do ano do nascimento de Jesus Cristo como um marco de referência para a contagem do tempo, de modo que os números dos anos são seguidos pelas expressões “antes de Cristo” ou “depois de Cristo”. Todavia, em calendários de outras religiões, os marcos de referência são outros, o que torna diferentes as próprias contagens do tempo. O ano 1 do calendário dos muçulmanos, por exemplo, corresponde ao ano de 622 d.C. (“depois de Cristo”) do calendário gregoriano, pois os muçulmanos usam como principal marco de referência para a contagem do tempo não o nascimento de Cristo, mas o episódio em que o profeta Maomé saiu da cidade de Meca para a cidade de Yatreb (esta última que passou a se chamar Medina).

Como se vê, os seres humanos nem sempre “contaram” o tempo, mas, quando começaram, muitas e diferentes foram as formas inventadas para se fazer isso. Vale ressaltar que, de um ponto de vista histórico e antropológico, não há que se falar em um calendário “melhor” ou “pior” do que os outros, pois cada sociedade usa o calendário que ela julga o mais adequado para as suas necessidades dentro de um determinado contexto histórico.

Última modificação em Quinta, 07 Dezembro 2023 00:37

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