Quarta, 24 Julho 2024 13:21

Tamanduá-bandeira é visto se refrescando em rio cristalino num calor de 42°C: MITO ou VERDADE? Consequências das mudanças climáticas sobre espécies animais.

Figura 1. Representação filogenética da Superordem Xenarthra, com representantes da Ordem Cingulata (tatus) e Ordem Pilosa (tamanduás e preguiças). Figura 1. Representação filogenética da Superordem Xenarthra, com representantes da Ordem Cingulata (tatus) e Ordem Pilosa (tamanduás e preguiças). Fonte: Imagem das autoras

Por: Clarice Silva Cesário e Luisa dos Santos Christo

Um dos vídeos mais comentados recentemente foi o de um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) se banhando em águas cristalinas na companhia de vários peixes, no Rio Formoso (MS), em um dia de muito calor. A cena é maravilhosa e encantou os internautas, que se perguntaram: é verdade que tamanduá nada?

Não podemos negar que, em dias extremamente quentes, tudo o que fazemos não é suficiente para diminuir a sensação de calor. Bebemos litros e litros de água e, após um banho gelado, o corpo ainda sai suado! O ventilador ligado mais parece um aquecedor e, sem o menor esforço, vivemos como se fosse dentro de uma sauna!

Se nessas circunstâncias damos o famoso “jeitinho brasileiro”, será que o tamanduá-bandeira também tem sua estratégia para fugir do calorão? MAS É CLARO QUE SIM! Os tamanduás são excelentes nadadores, assim como suas parentes próximas, as preguiças. Ambos fazem parte da Ordem Pilosa (Figura 1, acima) e herdaram essa habilidade de seus ancestrais, as preguiças gigantes marinhas do gênero Thalassocnus (Figura 2). Ver animais tão peludos nadando parece mesmo estranho e não é um registro comum, apesar de VERDADEIRO.

Por serem animais heterotérmicos, sua temperatura corporal é afetada pelas mudanças da temperatura do ambiente, então em dias muito quentes, também serão aqueles em que os tamanduás darão o famoso “jeitinho Pilosa”, utilizando-se de algumas estratégias para se refrescarem, como exemplo, nadar!

Figura 2. Representação da extinta preguiça gigante marinha (Thalassocnus sp.)  da América do Sul, no Mioceno Superior.
Fonte: Extraída do livro de Thomas Defler, History of Terrestrial Mammals in South America (2019), p. 133. Arte de Roman Uchytel.

Com certeza não tem sido fácil lidar com as mudanças climáticas. O pior é que os animais silvestres também são afetados pelas mudanças abruptas e intensas no clima. O aquecimento global é uma das principais causas do declínio de espécies na atualidade. Em um cenário otimista, em que a temperatura média da Terra aumente apenas 2°C, como o previsto pelo Acordo de Paris e, se as espécies pudessem se locomover livremente, o risco de extinção local seria de 20% em espécies animais das áreas mais biodiversas do mundo. Num cenário pessimista, na ausência de implementação de políticas climáticas, o risco de extinção poderia atingir 50% das espécies ou mais, dependendo do local e do grupo animal considerado (Figura 3). A taxa em que o clima aquece ultrapassa a máxima capacidade de adaptação dos animais. A Grande Barreira de Corais da Austrália, por exemplo, pode perder até 95% das suas populações até 2050. Uma espécie de salamandra na Califórnia já reduziu 20% de sua condição corporal em apenas 8 anos de análise. Os insetos polinizadores são os mais ameaçados, o que afetará diretamente na sobrevivência de plantas e na produção de alimentos. A migração forçada dos animais aumenta a incidência de doenças, inclusive as zoonóticas, atingindo também a saúde humana. O aquecimento global afeta a capacidade de sobreviver e se reproduzir, impactando de forma generalizada no equilíbrio ecológico.

Figura 3. Consequências do aquecimento global para os animais silvestres.
Fonte da imagem: Elaborada pelas autoras.

Assista ao vídeo do tamanduá-bandeira nadando no rio em: https://www.campograndenews.com.br/meio-ambiente/tamandua-nada-registro-raro-feito-no-rio-formoso-mostra-habilidades-do-animal .

 

1 Veterinária e Bióloga, doutora em Biologia Animal, Técnica de Laboratório no IFMG Campus Bambuí
2 Estudante do curso de Zootecnia no IFMG Campus Bambuí

Última modificação em Quarta, 31 Julho 2024 13:36

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