Você sabia que o peixe pirarucu pode morrer afogado?
Por Leonardo Silva Santos Lapa (leonardo_lapa@yahoo.com.br) e Gabriel de Castro Jacques (gabriel.jacques@ifmg.edu.br)
Sendo um dos maiores peixes de água doce do mundo, o Arapaimas gigas, também conhecido como pirarucu, é um peixe nativo da Amazônia que pode atingir um tamanho aproximado de 3 metros e pesar até 200 quilos! O habitat dos pirarucus são lagos e afluentes sem fortes correntezas, com temperaturas que variam entre 24 e 37°C.
Mas será que o pirarucu pode mesmo morrer afogado? Ou isto seria algum mito? Ou Fake news? Nenhuma dessas opções. A resposta está na adaptação de sua bexiga natatória.
A bexiga natatória é um órgão de grande importância para os peixes, com função hidrostática, ou seja, auxilia na flutuação dos mesmos. Ela é formada a partir de uma evaginação (formação para fora) do trato gastrointestinal. Na biologia, os peixes que possuem uma ligação entre a bexiga natatória e o esôfago são chamados de peixes fisóstomos, e os que não possuem ligação são conhecidos como peixes fisóclistos. Os fisóstomos conseguem encher a bexiga natatória respirando o ar atmosférico (como é o caso do que vamos falar mais abaixo). E os fisóclistos enchem sua bexiga através da glândula de gás, que retira oxigênio do sangue do peixe.
Durante a fase de alevino, os pirarucus desenvolvem brânquias, também conhecidas como guelras, principal órgão respiratório dos peixes onde ocorrem as trocas gasosas. Mas a partir de uma determinada idade (ou também peso) as brânquias param de se desenvolver e começam a sofrer modificações, e com o tempo vão perdendo um pouco de sua funcionalidade.
Com as brânquias não funcionais, como será que este peixe respira?
Aí que entra a bexiga natatória!
Quando o pirarucu atinge o peso aproximado de 2kg, sua bexiga natatória começa a apresentar uma grande vascularização (que nada mais é o aumento do número de vasos sanguíneos nesse órgão) e começa a adquirir uma nova função, que é a de realizar as trocas gasosas do peixe pela água e pelo ar, se assemelhando a um pulmão. E assim, essa adaptação da bexiga natatória faz com que o pirarucu tenha que vir a superfície para pegar ar atmosférico, se tornando um “respirador aéreo obrigatório”. Assim, se ele não vier à superfície para respirar, ele pode morrer afogado!
Mas isso seria um “azar evolutivo” para o Gigante da Amazônia? Na verdade, poderíamos dizer que há até uma vantagem nisso. Porque isso permite que eles sobrevivam em ambientes onde as taxas de oxigênio na água sejam muito baixas. Um fator que é muito importante e limitante para a manutenção de vida de algumas espécies aquáticas. Dessa forma, o pirarucu consegue se adaptar melhor em locais que para outros animais não sejam considerados ideais para sobreviver, o que pode, por exemplo, reduzir a competição do pirarucu com outras espécies por alimento e espaço. Afinal, um peixe desse tamanho precisa de bastante espaço né!
Figura 1: Pescadores capturando um pirarucu.
Fonte: https://media.istockphoto.com/photos/cargo-boat-picture-id1143334066?k=20&m=1143334066&s=612x612&w=0&h=ZgKaRWInaSaDKMf6ZT5PCqUTxdsrNJIu5X3wHuhhg0w=.
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