Absinto: a fada verde inspiradora de grandes artistas
Por Alda Ernestina dos Santos (alda.santos@ifmg.edu.br)
O absinto, popularmente conhecido por “fada verde”, é uma bebida destilada de elevado teor alcoólico, que se popularizou no século XIX devido ao seu consumo por artistas ilustres como os pintores Vincent Van Gogh, Pablo Picasso e Édouard Manet, que não apenas apreciavam a bebida, mas a retrataram em suas obras.
Originalmente obtido a partir da destilação da mistura de água, álcool e ervas vegetais como o absinto (Artemisium absinthium), a erva doce e o funcho (embora outras ervas como a camomila e a menta possam ser utilizadas), o absinto é um destilado e não um licor, como muitas pessoas o define. Dentre as principais características da bebida destaca-se seu elevado teor alcoólico, que pode ser superior a 70%, a depender do tipo e do método de preparo empregado.
Figura 1: Absinto pronto para ser consumido
Fonte: https://www.greenmebrasil.com/usos-beneficios/5892-absinto-usos-medicinais-efeitos-contraindicacoes
Apesar de ter sua imagem comumente ligada à França devido ao seu consumo por artistas parisienses da época, o absinto é uma bebida de origem suíça. E em seu país de origem o uso da bebida era tão comum que havia a chamada “hora verde”, um momento em que as pessoas se reuniam diariamente entre as 17h e 19h para tomar uma dose da bebida.
Apesar do absinto ter sido criado no século XVIII, as folhas de A. absinthium, principal matéria-prima da bebida, já eram utilizadas na Grécia Antiga como medicamento para o tratamento das mais diversas enfermidades. À época era comum o consumo das folhas desta espécie embebidas em vinho, o que, contudo, nada lembra o gosto e os efeitos observados para o absinto, cujo consumo está relacionado à possíveis efeitos alucinógenos, de forma que o nome “fada verde” não se deve apenas à coloração verde apresentada pela bebida, mas especialmente às recorrentes alucinações visuais experimentadas por algumas pessoas após o seu consumo.
Os efeitos alucinógenos advindos do consumo do absinto são geralmente atribuídos à combinação entre o álcool e a α-tujona, substância natural encontrada no óleo essencial de diversas plantas aromáticas, a exemplo de A. absinthium, em que está presente em grandes quantidades. Além de alucinógena, a α-tujona é neurotóxica e um potente convulsivante, atuando como antagonista do receptor GABAA, de forma que o uso habitual e em excesso do absinto leva a uma desordem denominada absintismo, cujos sintomas incluem alucinações, insônia, tremores e convulsões.
Figura 2: Fórmula estrutural da α-tujona.
Fonte: Próprio autor.
No século XIX o absinto era consumido por artistas como Van Gogh, que acreditavam que a bebida era capaz de aumentar a criatividade e, desta forma, tida como inspiradora por muitos artistas. Contudo, estudos científicos apontam que as alucinações decorrentes do consumo do absinto não levam ao aumento da atividade ou da capacidade mental, porém provocam perturbações no funcionamento cerebral, características da psicose. Assim, o consumo do absinto é considerado por muitos uma ameaça social que torna as pessoas psicóticas e com tendências à criminalidade.
Van Gogh era um ferrenho apreciador do absinto, e o uso excessivo da bebida teria lhe rendido alguns surtos psicóticos, há inclusive quem acredite que o pintor estava sob o efeito da bebida no episódio em que decepou sua própria orelha. A obra “Natureza morta com absinto” pintada em 1887 por Van Gogh é uma prova do apreço do artista pela bebida.
Figura 3: Quadro “Natureza morta com absinto”, de Vincent Van Gogh.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza_Morta_com_Absinto
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