Será que se as abelhas sumissem do planeta apenas a produção de mel seria afetada? Para responder esta dúvida de um leitor, convidei os biólogos Fernanda e Bruno para me auxiliarem com esta questão.

Por Fernanda Nunes Cabral (fernanda.cabral@ifmg.edu.br) e Bruno Sampaio Amorim

As previsões de um desaparecimento em massa das abelhas significaria que teríamos dificuldade em produzir comida. Animais que também se alimentam de frutos e, por conseqüência, os animais carnívoros sofreriam com isso, gerando um impacto na cadeia alimentar como um todo. Seria o colapso dos ecossistemas!

As abelhas possuem um papel muito mais importante do que talvez você imagina: 2% das espécies de abelhas realizam a polinização de 70-80% das plantas produtoras de alimento no mundo. Elas também polinizam flores selvagens (85% das plantas são polinizadas por abelhas) e, por isso, são importantes não apenas na manutenção da biodiversidade e vida no planeta, mas também na regeneração das florestas.

Figura 1: Abelhas visitando inflorescência de Asteraceae.
Fonte: https://www.semabelhasemalimento.com.br/home/polinizacao/

Mas como as abelhas fazem isso?

A polinização cruzada das plantas se dá quando as abelhas visitam as flores em busca de alimento (pólen ou néctar). Os grãos de pólen, que portam os gametas masculinos das plantas, ficam grudados no corpo das abelhas. Assim, quando elas visitam outra flor da mesma espécie, elas acabam carregando os grãos de pólen que irão germinar e fecundar os óvulos presentes dentro do ovário das flores. O desenvolvimento do ovário e a fecundação dos óvulos dará origem aos frutos e às sementes, respectivamente. Dessa maneira, as abelhas auxiliam na manutenção da variabilidade genética das plantas, permitindo a troca de genes.

Além desse importante papel como agentes polinizadores, as abelhas são boas indicadoras de ambientes. Elas são animais sensíveis e que não se dão bem com alterações ambientais. Uma colônia que vive há muitos anos é um sinal de que o ecossistema está saudável.

Ameaças

As abelhas têm sofrido uma grande pressão para sobreviverem. Nos últimos anos, diversos registros vêm sendo noticiados sobre a mortandade de abelhas e, até mesmo, sumiços inteiros de abelhas operárias em várias partes do mundo.

A perda de habitats é a principal ameaça. Junta-se a isso as queimadas ilegais, a introdução de espécies invasoras e as infestações de pragas nas colônias. A prática de plantio de monoculturas afeta a sobrevivência destes insetos por criarem habitats pobres.

Alguns trabalhos já apontam que o uso indiscriminado de pesticidas, principalmente as pulverizações aéreas, pode causar sérios danos às abelhas. Dependendo da quantidade aplicada, as abelhas podem morrer instantaneamente ou ficar desorientadas e terem dificuldades para encontrar suas colônias.

O que fazer?

Uma preocupação com as emissões de gases que afetam a temperatura global deveria ser prioridade de todos os governantes e público em geral. O controle do aquecimento global e diminuição de degradação dos habitats são fundamentais para a manutenção da biodiversidade de todos os seres vivos.

Os inseticidas que impactam negativamente as abelhas e outros animais deveriam ser proibidos e a utilização de vários outros, regulamentada e fiscalizada. Alternativas viáveis e que geram menos impacto precisam ser incentivadas e apresentadas aos produtores rurais.

Pensando nesses impactos e na falta de abelhas que polinizem as plantações, já existem projetos de uso de colméias robóticas, ou seja, o desenvolvimento de tecnologias para monitorar as colônias de abelhas e auxiliar na sua proteção. Existe também uma empresa que realiza um serviço de polinização assistida: é um aplicativo de aluguel das abelhas, conectando produtores e criadores de abelhas.

Nós também podemos criar ambientes mais amigáveis a esses pequenos seres: plantando diferentes plantas com flores nos jardins e parques ajudaria na atração de diferentes espécies de abelhas. Também podemos colocar pequenos bebedores de água fresca para elas (e outros animais) matarem a sede. Essa atitude minimizaria a perda de habitat e também deixaria nossos jardins ainda mais floridos! Como você pode ver, precisamos de ações conjuntas para lidar com esse problema!