Olá, caros leitores!

No texto dessa semana estaremos respondendo a uma pergunta enviada pelo leitor Ryann Melo, que gostaria de saber como é que sai o som de um disco de vinil. Para nos ajudar a responder, contaremos com a ajuda do professor Emerson Rodrigues Pimentel e alguns de seus alunos.

Como sai o som de um disco de vinil?

Por Emerson Rodrigues Pimentel (emerson.pimentel@ifmg.edu.br); Miguel Fernandes Menezes do Carmo; Vitor Garcia Melo; Luvas Lopes Leonel

A história dos inventos para gravar som é uma jornada fascinante que percorre séculos de desenvolvimento tecnológico. Nessa evolução é importante ressaltar a criação dos discos de vinil, um marco na história da música gravada. Este artigo pretende explorar essa trajetória desde os primeiros experimentos até a consolidação do vinil como meio de reprodução de áudio, bem como seu funcionamento.

Antes da invenção da gravação de som, a música era apreciada e transmitida de diferentes maneiras, sempre de forma efêmera e limitada geograficamente. As experiências em apreciação musical estavam associadas à música ao vivo (concertos, recitais, apresentações em igrejas, teatros, salões de baile e outros locais de entretenimento). Músicos profissionais, conjuntos de câmara, orquestras e bandas forneciam entretenimento musical para a comunidade local.

Cabe ressaltar ainda a presença marcante da música doméstica, em que as pessoas tocavam instrumentos, como pianos, violinos, violões e flautas; da música popular de rua - onde músicos tocavam em praças, esquinas ou mercados para ganhar a vida e entreter transeuntes; da música religiosa com seus coros e órgãos para proporcionar uma das partes centrais das celebrações, a música litúrgica; ainda a música tradicional folclórica, marcadamente em áreas rurais ou comunidades isoladas que contava histórias e tradições locais e era transmitida oralmente. E, por fim, o teatro e a ópera como importantes meios de entretenimento. Todas essas formas de manifestações incluíam a música ao vivo como parte integrante das produções.

No entanto, cada apresentação dessas, era única, ao vivo. A música não podia ser reproduzida ou compartilhada amplamente como ocorre hoje com as gravações. A invenção da gravação de som revolucionou a maneira como a música era consumida, permitindo que as pessoas ouvissem músicas e artistas de todo o mundo no conforto de suas casas e de forma mais duradoura.

No processo de evolução da popularização e disseminação da gravação de sons vale lembrar do fonógrafo de Thomas Alva Edison em 1877. O dispositivo usava um cilindro de cera para gravar as vibrações sonoras e, em seguida, reproduzi-las com uma agulha. Embora o fonógrafo fosse uma inovação importante, era caro e pouco prático para a reprodução em massa. Uma curiosidade é que o cilindro de cera, inicialmente seria utilizado para gravação de ligações telefônicas, porém não conseguiam manter a qualidade da gravação após algumas poucas reproduções devido ao atrito com a agulha de reprodução e à fragilidade da cera.

Em 1887 Emile Berliner introduziu uma mudança significativa com seu gramofone. Em vez de cilindros, o gramofone usava discos planos revestidos de uma substância semelhante ao vinil. Isso tornou a produção em massa mais viável e também permitiu uma qualidade de som mais consistente.

Até o início do século XX, os discos eram feitos principalmente de goma-laca, um material bastante frágil. Eles eram conhecidos por serem quebradiços e de curta duração, mas eram amplamente utilizados na era das primeiras gravações comerciais. Os equipamentos para tocar (rodar) os discos, as chamadas vitrolas, ainda não eram elétricos, em geral faziam uso de um sistema mecânico de cordas e o som captado pela agulha era amplificado por um diafragma justaposto no interior de um cone (corneta). Uma curiosidade dessa época era que os discos eram produzidos para funcionar em 78 rotações por minuto (RPM) e tinham a capacidade de ter uma música curta de cada lado!

Os discos de vinil, ou LPs (Long Plays), como se conhece hoje, começaram a ganhar popularidade na década de 1920. Esses discos eram feitos de vinil policlorado e tinham uma qualidade sonora melhor do que os discos de goma-laca. Além disso, a inovação da gravação elétrica (em oposição à gravação acústica) melhorou significativamente a qualidade das reproduções.

Nos anos de 1940, o engenheiro da Columbia Records, Peter Goldmark, introduziu o LP de 33⅓ rotações por minuto (RPM). Isso permitiu que os LPs armazenassem mais música e proporcionassem uma melhor fidelidade sonora.

Paralelamente, a RCA Victor lançou o single de 45 RPM, otimizado para músicas individuais. Essas duas inovações solidificaram os discos de vinil como o formato dominante para a distribuição de música gravada. Uma verdadeira revolução para indústria fonográfica em escala planetária.

Para entender mais profundamente o funcionamento dos discos de vinil e das vitrolas é preciso ter em mente que a produção do som é realizada através de um processo mecânico e analógico. Se faz necessário compreender algumas etapas da fabricação e da apreciação dos mesmos em uma vitrola ou toca-discos, nomeadamente: a gravação do vinil, a produção em massa, a amplificação e reprodução, e a conversão de volta para som.

Na fase da gravação do vinil, primeiro, o som é gravado em um disco de vinil mestre. Isso envolve a conversão do sinal de áudio em um sinal elétrico que é então usado para cortar sulcos em uma matriz mestra de vinil.

Este disco primordial será coberto por níquel e passará a se chamar matriz. Ela será a origem de todas as cópias daquele disco que serão comercializadas e armazenará o som que será passado para todas cópias do disco.

A gravação do áudio que será implantado na matriz é feita por um microfone que transforma o som captado em sinais elétricos que serão transferidos para o acetato, antes da cobertura de níquel, por meio de uma agulha de corte, que fará as ranhuras. Estas serão os sulcos que ao final serão responsáveis pela interação com a agulha que irá ler a música gravada.

A matriz deve ser perfeita, qualquer erro mínimo causará ruídos desagradáveis ao escutar a música. Com a matriz pronta e em boas condições, o vinil é prensado, ainda maleável pelo molde como se fosse um biscoito recheado, aderindo assim ao seu formato. Assim o disco de vinil já possui todas suas ranhuras nos devidos lugares, e por final deve receber os acabamentos e embalagem para ser encaminhado ao mercado.

Os sulcos na superfície do vinil são a representação física da música gravada. À medida que o disco gira em um toca-discos, a agulha do toca-discos é colocada no início do sulco e segue as variações do sulco conforme o vinil gira. A agulha é conectada a um braço que é parte de um sistema de captação (também conhecido como cápsula). À medida que a agulha segue os sulcos, as variações nas ranhuras causam movimentos na agulha. Esses movimentos são então convertidos em um sinal elétrico que corresponde ao áudio gravado.

Os sinais elétricos gerados pela agulha produzem pequenas vibrações. Essas perturbações, pelo processo de piezoeletricidade (pressão da agulha da vitrola sobre as ranhuras presentes no disco geram eletricidade em baixa tensão), que, numa próxima etapa será amplificada para tocar as músicas. A vitrola, portanto, fará o papel de captar a eletricidade e a transformar em som. Uma substância capaz de gerar energia por piezoeletricidade é o cristal de quartzo que ao sofrer pressão mecânica, gera um diferencial de potencial elétrico que por fim produz eletricidade que será transformada em ondas sonoras.

Esses sons, amplificados por um pré-amplificador (também conhecido como fono) é enviado a um amplificador e, finalmente, para alto-falantes, onde o som é reproduzido para que possamos ouvi-lo. O movimento das partículas de ar causado pelos alto-falantes reproduz a música original que foi gravada no vinil.

Portanto, o som de um disco de vinil é produzido pela leitura das variações mecânicas nas ranhuras do vinil, que são uma representação física do som gravado. Isso é o que torna os discos de vinil um meio analógico de reprodução de música, diferente da mídia digital, que utiliza informações digitais codificadas para reproduzir som. O som dos discos de vinil tem uma qualidade característica em que muitos entusiastas da música apreciam a experiência que eles oferecem.

Durante a "Era de Ouro" dos discos de vinil, as capas de álbuns se tornaram uma forma de arte em si mesmas. Artistas gráficos projetaram capas icônicas que se tornaram parte integrante da experiência musical.

O final da década de 1980 viu o declínio dos discos de vinil com a ascensão dos CDs e formatos digitais. No entanto, no início do século XXI, houve um ressurgimento surpreendente do vinil. Os colecionadores e audiófilos redescobriram o som analógico, e as vendas de discos de vinil aumentaram, transformando-o em um nicho em crescimento na indústria da música.

Hoje, os discos de vinil continuam a ser apreciados por sua estética, qualidade de som e valor nostálgico. Eles são uma parte valiosa e duradoura da história da música gravada, representando a convergência de inovação tecnológica e criatividade artística ao longo dos séculos. O vinil se tornou uma forma de expressão artística. Artistas independentes e alternativos frequentemente lançam vinis como parte de suas estratégias de marketing, incorporando a estética vintage como parte de sua identidade.

Enquanto olhamos para o futuro da música gravada, os discos de vinil permanecem como uma ponte entre o passado e o presente, celebrando a rica tapeçaria da história da música.