Quarta, 15 Fevereiro 2023 18:46

Diagnóstico microbiológico da mastite bovina em Minas Gerais

Crescimento de colônias bacterianas em placas de Petri com meios de cultura utilizados para o diagnóstico microbiológico de agentes causadores de mastite em vacas. Crescimento de colônias bacterianas em placas de Petri com meios de cultura utilizados para o diagnóstico microbiológico de agentes causadores de mastite em vacas. Vitória Hellen Sousa Pinheiro

Por Vitória Hellen Sousa Pinheiro (vitoriahspinheiro@gmail.com); Renison Teles Vargas (renison.vargas@ifmg.edu.br); Fernanda Morcatti Coura (fernanda.coura@ifmg.edu.br).

A bovinocultura leiteira é um dos setores de maior importância para o agronegócio brasileiro. Dentre os principais entraves enfrentados na atividade, destaca-se a mastite. A mastite bovina é considerada a doença mais comum e de maior impacto econômico para o setor, pois resulta em prejuízos sanitários e econômicos, como diminuição da produção e da qualidade do leite, aumento dos gastos com mão de obra e medicamentos, além de prejuízos na indústria devido à redução na qualidade e rendimento industrial de derivados lácteos.

A mastite é caracterizada pela inflamação da glândula mamária, resultando em alterações físicas, químicas e microbiológicas do leite. Desse modo, nota-se frequentemente alterações na coloração e presença de grumos no leite, bem como um aumento significativo de células de defesa, alteração esta verificada pelo aumento na contagem de células somáticas (CCS).

Dentre os patógenos associados à doença, as bactérias são as mais frequentes, seguidas por fungos e algas. A mastite pode ser classificada quanto a origem dos microrganismos que causam a alteração e quanto a forma de transmissão do agente etiológico.

Com relação à origem dos agentes causadores da mastite, a mastite contagiosa é caracterizada pela manutenção do microrganismo na glândula mamária da vaca, os quais possuem habilidades para o desenvolvimento de infecções subclínicas, ou seja, alterações que não são facilmente perceptíveis pelas pessoas, pois não resultam em alterações clínicas nos animais ou alterações visíveis no leite.

Já a mastite ambiental é representada por agentes oportunistas, que, por falta de adaptação ao animal, desencadeiam infecções clínicas, aquelas que podem ser percebidas no leite, como presença de grumos e sangue, e no animal, como alterações nos quartos mamários e nos tetos. O animal pode ainda, em casos mais graves, apresentar febre, anorexia, depressão e até chegar à morte.

É importante destacar a relação entre a mastite bovina e a saúde pública. Na bovinocultura leiteira, o uso de antimicrobianos no tratamento e a prevenção da mastite é muito comum, devido a sua alta frequência e o seu impacto econômico. Assim, o uso indiscriminado de antimicrobianos na criação animal pode resultar no aparecimento de bactérias resistentes, o que aumenta o risco de resistência antibiótica em bactérias que atingem o homem. Além da questão da resistência aos antimicrobianos, destaca-se a possibilidade da ingestão de leite contaminado com os microrganismos, podendo acarretar doenças para os consumidores.

Face ao exposto, com o objetivo de estudar a ocorrência e identificar os microrganismos causadores de mastite bovina em rebanhos leiteiros mineiros, a professora do IFMG Campus Bambuí, Fernanda Morcatti Coura, juntamente com o professor Renison Teles Vargas e a aluna de Medicina Veterinária, Vitória Hellen Sousa Pinheiro, em parceria com um laboratório privado de análises microbiológicas de leite localizado no Sul de Minas Gerais, desenvolveram um projeto de pesquisa que consistiu em realizar a cultura microbiológica de amostras de leite de vacas de diversas propriedades do estado de Minas Gerais, enviadas para o laboratório privado. A fotografia a seguir mostra algumas amostras de leite de vacas com mastite recebidas no laboratório para a realização do diagnóstico microbiológico pela aluna de Iniciação Científica do projeto.

imagem2 amostras de leite

Amostras de leite de vacas com mastite para o processamento e diagnóstico microbiológico.
Fonte: Vitória Hellen Sousa Pinheiro

Até o momento, 151 propriedades foram atendidas e 9780 amostras de leite foram processadas, das quais, 2961 foram negativas no isolamento microbiano. Com relação às amostras positivas, que contabilizam 6819 amostras de leite, foram identificados 15 patógenos diferentes, sendo eles Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativa (denominado atualmente de Staphylococcus não aureus), Streptococcus agalactiae, Corynebacterium spp., Bacillus spp., Klebsiella spp., Streptococcus uberis, Escherichia coli, Streptococcus spp., Prototheca spp., Streptococcus dysgalactiae, Hafnia spp., Pseudomonas spp., Serratia spp. e Leveduras.

Dos agentes identificados, os mais frequentes foram: Staphylococcus coagulase negativa (27,34%), Staphylococcus aureus (19,12%), Streptococcus agalactiae (14,25%) e Corynebacterium spp. (12,3%). Na foto 2, pode-se verificar o crescimento de bactérias isoladas das amostras de leite processadas para o diagnóstico microbiológico.

Considerando a relevância da mastite para a sanidade do rebanho bovino leiteiro e a importância da atividade econômica para o estado, conclui-se que a identificação e o isolamento de agentes causadores de mastite é uma importante ferramenta de manejo, visto que o conhecimento do agente causador da doença auxilia no tratamento, controle e prevenção da afecção, principalmente aqueles mais difíceis de serem identificados e controlados, como o S. aureus. Além disso, pesquisas permitem que os alunos vivenciem a prática da medicina veterinária, desenvolvam o pensamento crítico e apliquem o conhecimento teórico na prática cotidiana do campo, orientando os produtores rurais sobre o diagnóstico e controle da mastite.

Última modificação em Quarta, 15 Fevereiro 2023 19:02

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