Por: Lucas Gabriel de Sousa Barbosa, Mércia Neves Teixeira, Adilaine de Souza Anicio , Ketleen Ribeiro de Faria , Clarice Silva Cesário (clarice.silva@ifmg.edu.br)

Os órgãos ambientais públicos, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão do Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC), enfrentam dificuldades históricas devido à falta de investimentos consistentes do poder público. Essa realidade reflete diretamente no déficit de profissionais especializados, incluindo médicos veterinários, essenciais para atender a emergências envolvendo animais silvestres. Atropelamentos, queimadas e tentativas de caça são exemplos de situações que exigem ações rápidas e especializadas, que muitas vezes não podem ser plenamente executadas devido à carência de recursos humanos e materiais. Além disso, a literatura científica carece de protocolos específicos de fácil acesso que auxiliem no manejo e na saúde dessas espécies.

Com o objetivo de mitigar esses desafios, foram desenvolvidos Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) em formato de protocolos com diretrizes para o resgate e primeiros socorros de grupos animais frequentemente afetados por ações humanas no PNSC, como tamanduás-bandeira, tatus, lobos-guará, cervídeos, emas e seriemas. O projeto também visa capacitar os profissionais já atuantes no parque – biólogos, agentes ambientais, brigadistas e veterinários voluntários – para que possam executar as ações de forma ética, segura e eficiente, mesmo na ausência de veterinários especialistas. Assim, busca-se assegurar o bem-estar dos animais, minimizar o impacto ambiental e estabelecer práticas baseadas em ciência e alinhadas com os avanços da área.

A ideia para a elaboração dos POPs surgiu durante a "1ª Capacitação sobre Manejo e Resgate de Animais Silvestres", promovida pelo ICMBio no PNSC. A partir dessa iniciativa, foram definidas as principais espécies a serem atendidas e levantada a necessidade de um treinamento intensivo para os colaboradores. A redação dos POPs foi realizada no Microsoft Word, com uma estrutura objetiva que inclui procedimentos de contenção física e química (com sedativos e medicamentos de suporte), monitoramento e estabilização de parâmetros vitais, transporte seguro, lista de materiais essenciais, contatos de emergência e cuidados básicos para a manutenção das espécies em cativeiro temporário. As informações foram reunidas com base em referências científicas, bulários, consultas a especialistas e manuais técnicos, garantindo a consistência e a confiabilidade dos conteúdos apresentados.

Até o momento, os protocolos elaborados abrangem o resgate de tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), estando em fase de aprovação final. Posteriormente, os documentos referentes às demais espécies serão finalizados e enviados para análise e implementação pela gestão do PNSC. Após a aprovação dos protocolos, a equipe do parque passará por capacitações teóricas e práticas, com foco em técnicas de captura, manejo e transporte de fauna silvestre. Além disso, os POPs serão revisados e atualizados anualmente por um médico veterinário especializado, garantindo sua adequação às melhores práticas e novas descobertas científicas.

Figura 2 - Modelo impresso projetado

A implementação dos POPs no PNSC representa um passo significativo para a conservação da fauna local. Este projeto não apenas supre lacunas operacionais e técnicas, mas também fortalece a capacidade de resposta às emergências envolvendo animais silvestres, contribuindo para a proteção de espécies emblemáticas e a preservação dos ecossistemas da Serra da Canastra.