JACK RESPONDE: "Como é realizada a intubação orotraqueal em aves?"
Como é realizada a intubação orotraqueal em aves?
Autores: Maria Alice Gonçalves Braga; Joana Zafalon Ferreira
O aparelho respiratório das aves possui particularidades anatômicas e fisiológicas que o tornam único. Diferente dos mamíferos, esses animais não possuem diafragma: sua cavidade é única, chamada celomática, e a respiração depende exclusivamente dos músculos peitorais. Além disso, as aves apresentam pulmões rígidos e sem alvéolos. As trocas gasosas acontecem em capilares aéreos, enquanto os sacos aéreos funcionam como reservatórios de ar, garantindo um fluxo contínuo durante todo o ciclo respiratório.
Essas diferenças impactam diretamente a anestesia e os cuidados médicos. Na intubação, por exemplo, existem peculiaridades importantes: as aves não têm epiglote, o que facilita a visualização da glote, localizada na base da língua (Figura 1), o acesso também é facilitado pela ampla abertura de boca, embora em ordens como galiformes e psitacídeos ela possa ser mais restrita. Por essas características, a intubação nesses animais costuma ser mais simples do que em mamíferos.

Figura 1: Glote de ave
Fonte: Joana Zafalon Ferreira
Contudo, as aves estão mais sujeitas a algumas complicações transantésicas, como a broncoaspiração, devido a dois pontos: a presença da coana, uma fenda que conecta diretamente a cavidade oral com a nasal e o fato de possuir anéis traqueais completos, o que impede o uso do balonete (cuff) dos tubos endotraqueais. O balonete é uma estrutura inflável presente em algumas sondas endotraqueais, que veda a traqueia, prevenindo a aspiração de conteúdo em caso de regurgitação; entretanto, em animais com a traqueia rígida pode causar lesões, sendo utilizadas sondas sem o balonete (cuff), o que aumenta o risco de broncoaspiração. Por isso, recomenda-se o uso do maior tubo compatível com o paciente, sem balonete, ajudando a vedar a passagem de ar entre a cavidade oral e traqueal (Figura 2), outra recomendação é manter o animal em decúbito lateral.

Figura 2: Intubação em ave com sonda endotraqueal sem balonete.
Fonte: Joana Zafalon Ferreira
Por fim, essas adaptações anatômicas mostram como a prática veterinária em aves exige técnica e conhecimento específicos para garantir o bem-estar desses animais, e que para um procedimento anestésico de sucesso é extremamente importante considerar as particularidades de cada espécie.
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