Você ouviu falar em ecoansiedade? Você sabia que as mudanças climáticas podem afetar a saúde mental humana?

Por Jussara Lopes de Miranda (jussaraufrj@gmail.com)
As mudanças climáticas têm chamado cada vez mais atenção não só de pesquisadores, mas também de governantes e da sociedade. A discussão sobre a crise climática alcançou o público em geral, e tem sido abordada em diversas reuniões internacionais, incluindo as Conferências das Partes, conhecidas como COPs. Estas COPs são reuniões anuais de signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima com o objetivo de debater medidas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, encontrar soluções para problemas ambientais que afetam o planeta e negociar acordos.
A próxima COP, a COP 30, ganha maior importância para nós porque será realizada neste ano de 2025 em Belém-PA. As consequências do aumento da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera e os impactos negativos nos diversos ecossistemas já são notórias e apesar de terem sido alertadas nos Relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC, ligado às Organização das Nações Unidas (ONU), envolvem tomadas de decisões governamentais e engajamento social.
O aumento das incidências das tragédias ambientais e eventos climáticos, tanto na frequência como na sua gravidade tem sido vivenciado por muitos países e o Brasil não escapa deste cenário. Os prejuízos econômicos e sociais oriundos desta crise climática já são bem conhecidos, haja vista as consequências verificadas após a enchente do Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024 e os longos períodos de seca na Amazônia nos últimos anos. No entanto, ainda são pouco abordados os impactos que as mudanças climáticas causam na saúde mental humana.
As mudanças climáticas e o estado de emergência climática foram identificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um desafio fundamental para a saúde humana, com evidências de acumulação acelerada do agravamento dos seus efeitos globais. Os efeitos que as mudanças climáticas podem ter na saúde mental humana são diversos e multifatoriais, havendo estudos que mostram evidências empíricas sobre os seus efeitos negativos, que vão desde o aumento das taxas de diagnósticos psiquiátricos de depressão, ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático ao aumento de incidência de suicídios, agressões e crimes.
Novos termos associando a crise climática com sintomas, emoções e medos têm surgido: ecoansiedade, ansiedade climática, angústia climática, ansiedade ambiental, solstalgia. A ecoansiedade se distingue da ansiedade geral por ter motivação necessariamente associada às questões climáticas, podendo ser definida como um medo persistente associado às questões climáticas que causam impactos psíquicos negativos, ocorrendo, geralmente, em combinação com outras ecoemoções como tristeza, impotência, desespero, raiva, culpa, vergonha.
No Brasil e, especificamente, na região serrana do Rio de Janeiro, o histórico de enchentes torrenciais tem causado um aumento de registros nos casos de estresse e ansiedade, inclusive podendo estar relacionado a transtornos do estresse pós-traumático.
Embora as mudanças climáticas e a saúde mental representem uma área crescente de interesse na pesquisa, as evidências que examinam as suas associações e as explicam ainda são limitadas. Há indivíduos que, ao vivenciarem um desastre ambiental climático, experienciam angústia psicológica e sociológica, que poderão ou não desencadear transtornos mentais diagnosticáveis. Os fatores de risco envolvidos que podem agravar este quadro incluem a gravidade do desastre, como o testemunho de morte ou ferimentos, o status socioeconômico, o gênero, a faixa etária, a história psiquiátrica prévia, a etnia, o suporte familiar e social, dentre outros. Portanto, é fundamental reconhecer os fatores de risco e identificar populações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, também em relação à saúde mental, para elaborar medidas e estratégias para as intervenções na saúde pública, essenciais para nos prepararmos mais para os estados de emergência climática.
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