Ao longo do tempo, o brasileiro gasta menos de sua renda com a alimentação
Por Érik Campos Dominik (erik.dominik@ifmg.edu.br)
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza, de tempos em tempos, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ao visitar lares brasileiros periodicamente. Uma das abordagens diz respeito a quanto as pessoas gastam com as mais diversas categorias de despesa em relação à renda. Por exemplo, na última edição (2017-2018), a POF descobriu que o brasileiro gasta, em média, 14,2% de sua renda com alimentação, 29,6% com habitação, 14,6% com transporte, 6,5% com saúde, 3,8% com educação e 3,2% com pagamento de prestações, entre outras despesas.
Ocorre que os gastos percentuais com alimentação vêm em uma tendência de queda nas últimas edições: 17,1% na POF de 2002-2003, 16,1% na POF de 2008-2009 e 14,2% na POF de 2017-2018. E, provavelmente, deve cair mais nas próximas POF.
Mas isso significa que o brasileiro está comendo menos? Não, muito pelo contrário, o brasileiro vem comendo mais! A questão é que, quanto maior o nível de renda do indivíduo, menor a despesa percentual com a alimentação, já que o consumo de alimentos não cresce na mesma proporção que a renda. Na POF de 2008-2009, por exemplo, famílias que possuíam uma renda de até R$ 850,00 gastavam 27,8% de sua renda com alimentação, ao passo que aquelas que recebiam R$ 10.375,00 ou mais gastavam somente 8,5% da renda.
Ah! Então, o brasileiro está tendo uma renda maior ao longo do tempo? Embora haja períodos de queda, o rendimento real vem melhorando paulatinamente ao longo das décadas. Por exemplo, tirando o efeito da inflação, a renda média familiar real do brasileiro em 2018 estava cerca de 4,43% maior em comparação a 2009. Com a renda maior, o gasto percentual com alimentação naturalmente cai, o que faz com que o gasto com outras despesas aumente.
Durante a pandemia, o aumento do consumo de alimentos não se deu pelo efeito renda, mas pelo efeito substituição. Com a queda dos gastos com atividades de turismo e lazer, por exemplo, restou aos que ficaram em casa alimentar-se mais.
Fonte: Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE (edições 2002-2003; 2008-2009; e 2017-2018).
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