O mascote Jack é um jacaré-de-papo-amarelo
Por Clarice Silva Cesário (clarice.silva@ifmg.edu.br)
Jacarés são retratados como assassinos, vilões e feiticeiros em lendas e filmes. Quem nunca temeu o “giro mortal”, os enormes dentes e corpos de armadura? Sem contar o olhar sinistro que parece dizer “não chega perto do meu ninho!”. Hoje te convidamos a se esquecer desse tabu e conhecer o que os jacarés tem de especial.
Assim como os demais répteis, os jacarés foram os primeiros vertebrados a conquistarem definitivamente o ambiente terrestre! Algumas adaptações na pele, no embrião e no ovo impediram sua dessecação e os permitiram passar horas expostos ao sol, quando regulam a temperatura do corpo a partir da temperatura do ar. Por isso, são denominados seres heterotérmicos. Mas é principalmente na água e durante a noite que eles acasalam, comunicam-se e caçam. Por falar em alimentação, o controle biológico é uma função ecológica de extrema importância dos jacarés. Eles são predadores de topo de cadeia e por isso retiram animais fracos, doentes e velhos do ambiente, contribuindo para o equilíbrio das populações de presas. Por outro lado, algumas espécies de jacarés quando bem manejadas e exploradas, podem nos gerar alimento e muitos subprodutos, como o couro. Mas aí bate aquela curiosidade: “Jacarés comem gente?”. Não podemos negar que eventualmente ocorram ataques, embora sejam eventos raros e predominantemente acidentais. Isso porque humanos não fazem parte do hábito alimentar de jacarés, que se alimentam de peixes, mamíferos, aves, répteis e alguns invertebrados, sobretudo seres aquáticos. Não custa lembrar que todo animal, incluindo nós mesmos, pode se sentir em perigo à aproximação de outro, disparando sua resposta de “luta ou fuga”. Então, não se aproxime de um animal silvestre para tirar selfie, tocá-lo ou alimentá-lo! Nem tente ajudá-lo, caso ele esteja com problemas, caso você não tenha formação ou treinamento para tal.
O fascínio em torno dos jacarés também é uma realidade. Veja o exemplo do “Jack”, o jacaré mascote de Revista IFMG Com Ciência que vive na lagoa do IFMG Campus Bambuí (Figura 1). Suas aparições misteriosas e raras suscitam curiosidade nos frequentadores do Campus. Registros recentes mostram que ele vive com pelo menos mais três indivíduos, que em breve serão alvo de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Trata-se de exemplares de jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris), cuja coloração é verde-oliva a marrom escuro com manchas pretas na face e no dorso, e ventre e “papo” amarelados. De porte médio (entre 2 e 3 metros e 45 a 80 Kg), possui o focinho mais largo dentre os crocodilianos, além de curto. Essa espécie se acasala nos meses quentes e chuvosos (outubro a fevereiro). Os ninhos geralmente são aglomerados de vegetações flutuantes que abrigam entre 15 e 50 ovos durante 65 a 90 dias. A definição do sexo dos filhotes se dá por meio de variações da temperatura de incubação: até 31° C nascem fêmeas, entre 31 e 33° C nascem machos e, acima disso, nascem ambos os sexos. São animais longevos, podendo atingir mais de 70 anos (Será que o Jack é um vovô?). Naturais das bacias do Rio São Francisco e Paraná, 70% de sua distribuição está registrada em terras brasileiras, mas também ocorre na Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Estes jacarés vivem em pântanos, charcos, rios e riachos, com forte associação a vegetação aquática densa, e podem habitar mangues, ilhas costeiras e regiões de até 800m de altitude. Felizmente, o estado de conservação do jacaré-do-papo-amarelo de acordo com a última edição do Livro Vermelho da Fauna Brasileira (ICMBio, 2018), assim como das outras cinco espécies de jacarés brasileiros,é “Pouco Preocupante”, bem melhor que no passado, quando a espécie foi considerada ameaçada de extinção.
Figura 1: Jacaré-de-papo-amarelo na lagoa do IFMG Campus Bambuí
Imagem cedida pelo Prof. Mayler Martins
Maaas... Existem répteis brasileiros ameaçados de extinção? Quais as outras espécies de jacarés brasileiros? Jacaré e crocodilo é a mesma coisa? Esse papo fica pra próxima! Até breve, pessoal. Mas fiquem ligados, que temos outros projetos, como o Grupo de Estudos em Animais Silvestres, "E a Cuca, pega?" e outros com temática sobre fauna silvestre e sinantrópica.
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