Por Beatriz Miranda da Rocha, Gabriel de Castro Faria, Ana Luiza Silva e Gabriel de Castro Jacques (gabriel.jacques@ifmg.edu.br)

Os gambás, mamíferos da ordem Didelphimorphia, podem parecer animais inofensivos, mas possuem uma habilidade surpreendente digna de um verdadeiro sobrevivente: são altamente resistentes ao veneno de cobras peçonhentas, como jararacas e cascavéis.

Essa resistência não é obra do acaso, mas sim de uma adaptação evolutiva impressionante. O segredo está na presença de uma proteína especial chamada peptídeo opióide neutralizante de veneno (ONP, do inglês Opossum Neutralizing Peptide), capaz de bloquear os efeitos tóxicos das peçonhas e garantir a sobrevivência desses pequenos marsupiais.

O caso dos gambás e das cobras é um exemplo clássico da chamada corrida armamentista evolutiva, onde presas e predadores desenvolvem adaptações para superar as estratégias uns dos outros. No caso dos gambás, essa resistência abriu caminho para que eles incluíssem serpentes em sua dieta, reduzindo a competição por alimentos e aumentando suas chances de sobrevivência.

Essa resistência fascinante não beneficia apenas os gambás. Pesquisas recentes indicam que o ONP pode ser uma chave para desenvolver novos antídotos contra picadas de cobra em humanos. Cientistas vêm explorando essa proteína como um potencial agente terapêutico, capaz de neutralizar venenos de diferentes espécies de serpentes e oferecer uma alternativa mais eficaz para o tratamento de envenenamentos.

Figura 1. Cartaz de divulgação do Instituto Butantan

https://butantan.gov.br/bubutantan/gamba-e-um-dos-unicos-animais-imunes-ao-veneno-das-serpentes--saiba-por-que

A incrível resistência dos gambás ao veneno é um exemplo perfeito de como a evolução molda as espécies ao longo do tempo, garantindo vantagens ecológicas que permitem sua sobrevivência em ambientes hostis. Quem diria que esse pequeno marsupial teria um dos segredos mais valiosos para a ciência?