Aplicações da nanotecnologia na indústria de alimentos
Por Mateus Vinícius Carvalho Simões e Clara Suprani Marques (clara.suprani@ifmg.edu.br)
A nanotecnologia é uma ciência revolucionária que trabalha com partículas em escala nanométrica. Para termos uma ideia, um nanômetro é um bilionésimo de um metro! Isso é tão pequeno que ultrapassa os limites da visão humana. Imagine que a espessura de uma folha de jornal é de cerca de 100.000 nanômetros.
O que torna a nanotecnologia tão fascinante é que, nessa escala, os materiais podem se comportar de maneira completamente diferente do que estamos acostumados em suas formas macroscópicas. Isso abre um mundo de possibilidades para a criação de novos materiais e componentes com propriedades únicas e aprimoradas (Figura 1).
A nanotecnologia tem uma vasta aplicação em diversos campos da ciência, como na cosmetologia, farmacologia, eletrônica e muito mais. Um dos campos promissores da nanotecnologia é a indústria de alimentos, com o potencial de transformar a maneira como produzimos, processamos, armazenamos e consumimos os alimentos. Por exemplo, a nanoencapsulação permite que substâncias bioativas (vitaminas, minerais, compostos aromáticos, compostos antioxidantes, probióticos, dentre outros) sejam encapsulados em partículas extremamente pequenas, melhorando a absorção destes nutrientes pelo organismo ao mesmo tempo que os protege contra a degradação durante o processamento e armazenamento dos alimentos.
As embalagens, fundamentais na conservação de alimentos, têm experimentado avanços significativos graças à nanotecnologia. Um exemplo são as embalagens desenvolvidas com nanocompósitos (materiais avançados que integram nanopartículas em matrizes poliméricas, cerâmicas ou metálicas, conferindo propriedades aprimoradas), demonstrando propriedades antimicrobianas e/ou inteligentes graças à inserção de nanosensores capazes de detectar a presença de produtos químicos, agentes patogênicos e toxinas em alimentos. A Figura 2 representa uma embalagem inteligente equipada com sensores colorimétricos capazes de detectar a amônia (NH3) em pescados, permitindo avaliar o grau de deterioração desses alimentos ao longo do tempo, servindo com um indicador de qualidade do alimento.
Figura 2. Embalagem inteligente com sensores colorimétricos capazes de detectar amônia em pescado ao longo do tempo.
Fonte: https://www.locus.ufv.br/handle/123456789/28092
Outro exemplo são as garrafas feitas com nanocompósitos que minimizam o vazamento de dióxido de carbono (CO2), gás presente em bebidas gaseificadas, permitindo a conservação do líquido por mais tempo sem a necessidade de recorrer a embalagens de vidro ou metal. Hoje em dia, existem limitações do armazenamento da cerveja em garrafas plásticas, devido à reação do plástico com o álcool, trazendo alterações na qualidade sensorial da bebida. No entanto, esse problema está sendo superado graças aos estudos aprofundados em nanotecnologia.
As nanoemulsões aplicadas em alimentos são promissoras em termos de qualidade sensorial, principalmente quanto à textura, quando comparadas às emulsões convencionais. Os lipídios contribuem muito para a textura dos alimentos, promovendo uma textura cremosa. A densidade e o tamanho das gotículas lipídicas, assim como suas interações com outros componentes, afetam a forma como essa cremosidade é percebida pelo consumidor. Particularmente, quanto menor o tamanho das gotículas, maior é a uniformidade percebida quando o alimento entra em contato com a língua. Desta forma, as nanoemulsões têm posição privilegiada, já que promovem uniformidade de textura, o que favorece a aceitação pelo consumidor.
A nanotecnologia está moldando o futuro da indústria alimentícia, proporcionando soluções inovadoras que transcendem o que conhecemos atualmente. Estamos diante de um campo de pesquisa empolgante, e mal podemos esperar para testemunhar os avanços que ainda estão por vir. Mas é sempre bom lembrar que ainda é preciso o esclarecimento a respeito de algumas incertezas e riscos a todas as partes envolvidas (consumidores, pesquisadores, produtores e órgãos regulamentadores) associados ao uso da nanotecnologia!
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