Por Ana Júlia Silveira Chaves; Alline Morgana Silva Leite; Karina Yukie Hirata; Joana Zafalon Ferreira (joana.zafalon@ifmg.edu.br)

No Brasil o número de cães e gatos como animais de companhia soma mais de 78 milhões. As cadelas e gatas atingem a maturidade sexual cedo, a partir dos 6 meses de idade, são capazes de gerar vários filhotes por ninhada e possuem uma gestação rápida comparada às demais espécies, aproximadamente 60 dias, resultando no aumento relevante da população desses animais.

Dessa forma os tutores procuram opções para evitar a gestação indesejada e a falta de informação resulta na escolha de fármacos anticoncepcionais ao invés da castração cirúrgica, que é o método contraceptivo mais seguro e eficaz. Os anticoncepcionais a base de hormônios são facilmente encontrados em clínicas veterinárias e casas agropecuárias a baixo custo e atuam como reguladores da atividade funcional do sistema reprodutor dos animais, evitando gestações.

Entretanto, seu uso é capaz de causar efeitos indesejáveis, como hiperplasia endometrial cística, podendo evoluir para um acúmulo de pus no útero (piometra), câncer de mama, “gestação psicológica” e diabetes. Caso seja administrado em cadelas e gatas gestantes pode resultar em complicações no parto, retenção do feto e abortos, colocando em risco a vida da fêmea e dos filhotes. Esses efeitos colaterais e o risco de uso dos anticoncepcionais muitas vezes são desconhecidos por parte dos tutores, o que torna o método de controle reprodutivo de cadelas e gatas mais utilizado.

Com o objetivo de coletar informações da população bambuiense sobre o conhecimento do uso errático de fármacos contraceptivos em gatas e cadelas, de conscientizar os tutores sobre os efeitos adversos desses medicamentos e incentivar a castração como método de escolha, as discentes do curso de Medicina Veterinária Ana Júlia Silveira Chaves e Alline Morgana Silva Leite e as professoras Karina Yukie Hirata (UFJF) e Joana Zafalon Ferreira (IFMG) desenvolveram este projeto.

Como método de coleta de dados foi aplicado questionário para indivíduos que residem em Bambuí-MG e possuem gatas ou cadelas. Ao finalizar o questionário o tutor recebeu orientações para conscientização sobre os malefícios dos anticoncepcionais e os benefícios da castração, considerada a forma mais segura de esterilização.

No total foram coletadas 118 respostas, no qual 35% relataram já ter feito uso dos contraceptivos hormonais. Destes, 53% não conheciam os riscos que o medicamento poderia causar e a maneira correta de aplicação. Além disso, 67% dos entrevistados relataram ter adquirido o medicamento em estabelecimentos sem receber qualquer tipo de informação, aumentando os riscos de erros na administração de doses e da fase do ciclo reprodutivo ou ciclo estral correto (intervalo entre um cio e outro) em que o medicamento poderia ser utilizado.

A principal motivação dos entrevistados para o uso dos anticoncepcionais se dá pelo baixo custo dos medicamentos, quando comparados com a castração, reforçando que o fator econômico ainda é uma barreira para adoção do método de esterilização cirúrgica pelas pessoas de baixa renda.

Após participarem do questionário, os tutores conscientizados já demonstraram aversão ao uso dos fármacos anticoncepcionais, e logo houve maior interesse na castração por suas vantagens. Enfatizaram ainda a importância da realização de campanhas de conscientização sobre o uso de fármacos anticoncepcionais em animais de companhia, visto que grande parte dos usuários não conheciam os efeitos deletérios dos hormônios.

Apesar do número limitado de tutores entrevistados, conclui-se que ainda há uma parcela considerável da população de Bambuí-MG que utiliza os fármacos contraceptivos como forma de prevenção da gestação e a maioria deles não conhecem os riscos causados pelo seu uso incorreto. No entanto, ações de conscientização impactam a sociedade positivamente proporcionando o desenvolvimento da guarda responsável e do bem-estar animal, o que demonstra a importância da execução de projetos deste tipo.

Informativo usado na conscientização dos entrevistados.
Fonte: Autores (2022).